A enfermeira Marcele Ferrari, que atua na UTI respiratória do Hospital de Clínicas de São Sebastião, afirmou que o clima é tenso no enfrentamento a um inimigo desconhecido e invisível, que é o Covid-19. “Temos medo de morrer ou de contaminar as pessoas que convivemos”. A afirmação foi feita durante entrevista ao Jornal da Morada – A Voz do Povo, na Rádio Morada FM, na manhã desta segunda-feira (13).
A enfermeira afirmou que o clima é tenso. “Percebo o olhar de medo das pessoas que conversam comigo. O clima é pesado, temos medo de morrer e contaminar as pessoas que convivemos”.
Segundo ela, a rotina das equipes que trabalham na UTI respiratória é rodeada de medo pela insegurança de uma patologia nova e, ao mesmo tempo, de uma esperança dos profissionais de saúde para com a vida da população.
Marcele disse que 30 minutos antes do plantão, tem início a paramentação para entrar na área contaminada. “A paramentação é quente e machuca, com macacão, avental, máscara N 95, óculos de proteção e protetor facial e as botas”.
Durante o plantão de 12 horas, os profissionais têm o cuidado de não tocar rosto, evitam beber água, ir ao banheiro e se alimentar por certo período, para que não haja a contaminação na desparamentação. “Fazemos uma única desparamentação durante a refeição, após seis horas de trabalho”.
Dificuldade
A enfermeira afirmou que a grande dificuldade é cair da ficha do paciente, entender que está contaminado e a importância do isolamento domiciliar. “Quando o paciente vai para a UTI respiratória e não pode receber visita, a gente percebe que ele entende a seriedade da doença”.
“Estamos com pacientes que sequer têm visitas ou são acompanhados por parentes. Durante um período, as únicas pessoas que eles têm somos nós”, afirmou.
Pessoal
Além disso, a vida pessoal do profissional da saúde também sobre alterações significativas, como é o caso de Marcele. “Há uma semana encaminhei minha filha aos cuidados das avós. A gente conversa por WhatsApp, às vezes a vejo no portão, porque a saudade é grande, mas a segurança é mais importante”.
Após o plantão de 12 horas noturnas, o marido de Marcele a pega no Hospital, ambos de máscara. Mesmo passando pelo processo de descontaminação no hospital, ao chegar em casa, ela toma outro banho e a roupa vai direto para a máquina. A profissional possui outro vínculo tamb´rm na rede da saúde, que é a articulação na Atenção Básica da Fundação de Saúde e neste momento está desenvolvendo trabalhos em Home Office para evitar contaminação cruzada com os colegas.

Aglomeração
A enfermeira disse que dá tristeza quando vê que seus vizinhos não respeitando as recomendações. “É uma revolta porque estamos nos excluindo da sociedade e das pessoas que mais amamos para cuidar e dar mais segurança a todos”
Para Marcele, se continuar no ritmo de aglomerações, “teremos tristes notícias daqui a duas semanas.